segunda-feira, 8 de março de 2010

O MAL, DESINIBIDO

Não posso dizer que a tentativa
de esquecer o meu passado,
tenha nsido feita de graça.
Por pouco, não a fiz calar,
dentro da minha mente, sufocada.
O brilho do sol parece novo,
nestes dias chuvosos de primavera.
Faz-me esquecer daqueles outros dias
que se pareciam com cenas de um filme qualquer.
Quanta amargura pode estar contida
na lembrança de atos pueris?
De cada poro do corpo, o suor,
por pura maldade,
desliza, em zigue-zagues hostis.

EU E MEU EU

O silêncio é meu amigo, compassivo,
meio desalinhado, violento, desfigurado.
Sofro no silêncio.
A traição e o engano.
Isso consome a minha alma
e torna-me louca, debilitada,
sem prazer em mais nada.
Ouço cataratas dentro de mim
quando o silêncio está aqui.
As angústias e queixas
da inquietude do meu ser,
causam espanto e atormentam.
Mesmo nesse momento,
algo bate aqui dentro.
É o coração,
dizendo à mente para ficar em silêncio.

SEGUIR EM FRENTE

Mas mesmo assim vou indo em frente,
pensando em todas as coisas que eu tenho pra viver.
Viver, na vida, alegremente,
sem ter medo, sem sofrer.
E depois, de que me importa,
o que os outros vão pensar?
Por isso, vou seguindo,
nessa estrada, que alucina,
que me faz querer, ainda,
fantasiar meus sonhos,
inquietantes, e não mais parar.
Espero, sim, um dia,
saciar essa vontade e dar espaço à mente,
e respirar fundo, enfim, a brisa.
Sim, a brisa, essa do dia-a-dia...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O POETA, DESPRENDIDO E PRISIONEIRO

Quero mudar a altercação verbal,
deixar de ser característica, talvez.
Quero ter a infância acabada de volta,
pedir auxílio, ter qualidades sentimentais.
Ser simples, não taciturno.
Ser breve, mas cheia de explicação.
Cristalizei o meu desconhecido
e amenizei os sentidos sem sentido.
Perdi-me entre os ditos populares,
absurdos, mas cheios de razão.
Concordei com esse espaço menos intenso,
acostumada a presenciar.
Quero mudar o som da festa, a última,
e identificar cada palavra, comemorar.

O PASSADO ANTOLÓGICO

Meu passado, revestido,
revirado, pelo avesso,
fala coisas sem sentido,
conta casos aos pedaços.
Mas a vida é assim,
cheia de reviravoltas, desengonçada.
Prega peças em todos nós
sem dar folga nem trégua.
Meu passado, eu sei,
é cheio de erros, despeitado, foi pisado e maltratado,
foi tudo menos respeitado.
Por que não conversamos sobre isso?
Para esclarecer a minha mente?
Vejo tudo o que eu sinto
estampado, em cores, na parede.
O medo de ficar sozinha,
consome minhas últimas energias.
No meu passado, descubro,
como num passe de mágica,
fazendo o maior sentido,
minhas lembranças, quase esquecidas,
querendo fazer parte do espetáculo.

SENTIMENTO HEREGE

O improvável, porém, também acontece.
Persegue, perscruta, investe.
Os desenganos, às vezes, também prejudicam.
Machucam, mutilam, arrancam verdades.
O capitalismo, há muito, também revoluciona.
Não só cresce, oportuniza, dinamiza,
também despreza, desilude, danifica.
Ficar por aí, a entender o "x" da questão,
dessa revolução não-permitida,
desinibidora, que desmascara a nossa cara?
O que acontece, afinal,
com todos os planos bons?
Com todas as conquistas tão esperadas,
aclamadas pelos bom-humor?
A vassalagem, tradicionalíssima,
dissimula o nosso entender.
Encara todos os momentos férteis,
faz-nos pensar que não temos poder.

UM TOLO, ATO BRAVO

Gaguejando as palavras livres,
presas no confinamento do meu eu,
atribuo, antes de qualquer coisa,
ao estremecimento, meu adeus.
Como um ser cuidadoso que sou,
vivo os momentos, um por um.
Usufruo recursos variados
para adaptar-me ao lugar comum.
Descontrolo-me, por um segundo,
pela inexatidão dos meus atos,
mas sobrevivo, embevecida,
pronta para ocupar, com fulgor, meu espaço.
Também, de outro jeito não tem como
e eu perco o meu ritmo, o meu compasso.

TIROS INOCENTES

Sempre que algo acontece,
os tiros pegam em mim.
Entram direto em meu peito
e lá passeiam, por horas sem fim,
fazendo um estrago assombroso
na minha mente entorpecida.
Então, vou viajar por um campo dourado,
onde a vida é de uma vastidão tão grande
que, sem um destino fixo, perco-me nele.
As ondas feitas pelo vento
dão ao campo um aspecto de cetim.
Do alto, ele é limpo, fofo,
no chão, a grama faz cócegas em mim.
O tempo, lá de cima, acena,
esperando por um erro meu.
Digo adeus e volto à realidade,
para catar os pedaços do meu eu.

O EU, QUE ACUSO

Os sentimentos confundem-se com tormentos
que reciclam fagulhas abrandadas pelos anseios.
Desvio-me à fronteira do destino prático
para retorcer, levemente, os medos escravagistas,
que são independentes dos meus maus-tratos.
Fixo raízes, enquanto posso,
para não poder fugir em algum momento.
Distraio-me, de vez em quando,
para não precisar provar do meu veneno.
Outros ramos crescem, ao vento,
e eu, sozinha, apenas faço parte do enredo.
Atuo comigo mesma,
dizendo coisas sem sentido.
O tema principal sou eu, ferida,
perdida do que fui, no "eu mesmo".
Não posso voltar a vida,
muito menos entender meus erros infantis,
que machucam meus velhos cabelos negros,
já brancos de tanto apelo,
por um dia a mais longe de mim.

O DIFERENCIAL DO TEMPO

Alguma coisa está perdida no meu tempo
e eu não sei o que é.
Eu suspeito e desacato o meu jeito
sem entender o por quê.
Mas, para isso tenho remédio,
trocando os meus planos de lugar.
Não sou tão boba quanto aparento
embora, por cautela, tenha que ficar.
O meu tempo passa por mim,
e eu simplesmente dou espaço, feliz.
Quando menos espero, recebo mensagens,
e, muitas delas, nem falam de mim.
Construo meu mundo à base delas
sem festejar nada, sem sorrir.